sexta-feira, 29 de maio de 2015


DIGNIDADE E RESISTÊNCIA

Que direito tem um governo, no caso o dos EUA, para unilateralmente elaborar uma lista de países que supostamente apoiam o terrorismo? Quais os critérios e em que normas internacionais assenta tal relação ninguém sabe e dificilmente isso poderia ser explicado por quem tem uma poderosa indústria bélica, vendendo por esse mundo fora armas a quem melhor pagar, sejam terroristas ou não.

Cuba constava dessa lista, provavelmente por fornecer gratuitamente apoio aos países mais carenciados, enviando profissionais de saúde que para além da assistência sanitária directa aos cidadãos, fundaram e ministram aulas em faculdades de medicina e de enfermagem, com vista à formação de técnicos locais. Se isto é apoiar o terrorismo, então que muitos outros países o façam, para que mais médicos e enfermeiros possam salvar os seus concidadãos.

Agora que Cuba saiu dessa tenebrosa lista a que nunca deveria ter sido associada, muitas outras questões podem ser ultrapassadas, nomeadamente as relacionadas com a importação de alguns equipamentos médicos e produtos farmacêuticos específicos que apenas são produzidos nos EUA.

Espera-se então, com o decorrer das rondas de conversações que têm decorrido com respeito mútuo, se possa chegar a um entendimento para o reatar das relações e a instalação de Embaixadas nos dois países. Mas para isso é ainda necessário que os EUA levantem o embargo económico, financeiro e comercial, que se comprometam a devolver o território ilegalmente ocupado de Guantanamo e que ao abrigo da Convenção de Viena o seu pessoal diplomático não se imiscua nos assuntos internos de Cuba.

Por agora e pelo que se sabe, à margem das delegações oficiais de cada país, têm existido encontros de comissões técnicas para dialogarem sobre algumas áreas de interesse mútuo, como a aviação civil, a investigação sobre espécies e a definição de zonas marinhas protegidas, as cartas náuticas, a hidrografia, assim como o combate concertado a doenças infecciosas, à prevenção de epidemias e à troca de experiências científicas no campo da saúde.

Com o desanuviar das relações tensas entre Cuba e os EUA desde há mais de meio século, tem-se verificado um incremento de cidadãos norte-americanos a viajarem para Cuba com fins turísticos ou de prospecção de negócios, cifrando-se um aumento de 36% no primeiro trimestre de 2015 em comparação com o período homólogo do ano anterior, ou seja de 29.123 para 38.474. Em termos gerais, o aumento de entradas no país foi de 14%.

Cuba está hoje na ordem do dia e com todos os focos para si apontados, seja pelas constantes visitas de delegações internacionais chefiadas pelos seus mais altos dignitários, seja pelos seus sucessos a nível interno e externo, cumprindo assim o seu importante papel na América Latina e dando exemplos ao mundo de como um pequeno país em área geográfica e população pode ser tão grande em dignidade e resistência.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)


sexta-feira, 15 de maio de 2015


OS HERÓIS DO POVO

Hoje, após o regresso à pátria dos Cinco Heróis Cubanos que estiveram presos nos EUA, começam a ser conhecidos alguns episódios particulares de cada um deles sobre todo o processo em que estiveram envolvidos, desde o momento em que lhes foi pedida a sua colaboração para assumirem os riscos de uma missão tão especial em que nem os familiares mais próximos podiam conhecer.

Imagine-se o sofrimento de um pai e marido sabendo que a sua mulher acreditava que ele tinha roubado um avião e desertado do país para se passar para Miami e integrar-se num grupo terrorista, sendo as suas filhas vaiadas na escola pelos colegas que lhes chamavam filhas de um traidor.

Imagine-se a angústia de um filho sabendo que a sua mãe havia falecido convencida que ele se tinha passado para as hostes de um grupo terrorista que exercia acções violentas contra Cuba.

Imagine-se o estado de espírito de cada um deles em que permaneceram por largos períodos em completo isolamento e já depois de condenados, impedidos de receberem visitas dos seus familiares por as autoridades dos EUA não concederem os necessários vistos.

Imagine-se o que é ser condenado a duas cadeias perpétuas, acrescidas de mais quinze anos, num país em que a justiça peca pela sua falta de isenção, mais a mais num processo de cariz político eivado de contradições e fortemente influenciado por gente com poder ligado às máfias de Miami.

Mas a grandeza do seu patriotismo e a forte convicção de que o seu sacrifício evitou a perda de muitas vidas humanas levou-os a suplantar tudo isso, dando-lhes a força e a coragem suficientes para suportarem com firmeza as injustiças de que eram alvos. E hoje, se necessário fosse, voltariam a fazer tudo de novo.

Actualmente, não há ninguém em Cuba que não os conheça e que não lhes esteja grato, sendo requisitados constantemente para participarem nos mais variados eventos e receberem o carinho da população que os quer tocar, abraçar, beijar e agradecer, vendo neles o exemplo digno dos antepassados que se bateram pela independência de Cuba, com o sacrifício da própria vida. E estes homens são tão simples mas tão grandes, que se misturam com o seu povo e com eles confraternizam, pois dele vieram e finalmente a ele voltaram.

Povo que com muita coragem soube enfrentar o período especial que se seguiu ao derrube do bloco de leste europeu, principal parceiro económico de Cuba, em que homens e mulheres tiveram de “inventar” para dar de comer aos seus filhos, resistindo heroicamente às contrariedades.

Há quem apenas goste de Cuba para aí fazer turismo e há também quem não goste porque só vê o superficial e nada mais. Mas o que Cuba tem de mais importante são as pessoas que com toda a dignidade sabem viver o dia-a-dia e defender a qualquer preço o seu país.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)

quinta-feira, 7 de maio de 2015


1.º DE MAIO DE 2015

Mais uma vez tive o privilégio de acompanhar uns amigos a Cuba para participarem no grande desfile do 1.º de Maio em Havana, que desta vez decorreu debaixo de uma irritante chuva, mas que nem assim serviu para desmobilizar o povo que mais ou menos protegido contra a intempérie, compareceu em massa para confraternizar e viver a grande festa do Dia do Trabalhador de apoio à Revolução, tendo este ano a particularidade de homenagear os Cinco Heróis Cubanos que com os seus familiares directos encetaram o desfile, após tantos e tantos anos em que foram impedidos de o fazer e que aqui se reclamou insistentemente a sua libertação, cumprindo-se a promessa de Fidel: “volveran!” e finalmente regressaram todos à Pátria e ao convívio com os seus concidadãos que eternamente lhes estarão agradecidos.

Mesmo com mau tempo a alegria foi contagiante, predominando o colorido e a juventude que pulou e dançou enquanto desfilava, empunhando os mais variados cartazes com palavras de ordem ou fotos dos seus líderes, como Marti, Che, Camilo, Raul e Fidel, personalidades que sempre são lembradas pelo seu passado ou presente e referências da Revolução Cubana.

A tudo isto também assistiu o Presidente Raul Castro acompanhado pelo Presidente Nicolás Maduro, que veio agradecer todo o apoio à Revolução Bolivariana da Venezuela, tão atacada nos últimos tempos pelo império norte-americano, que continua a querer ingerir-se nos destinos de nações soberanas e independentes que democraticamente sabem escolher o futuro que desejam.

Este ano participaram delegações de mais de 60 países, entre elas a de Portugal, umas mais numerosas que outras, que também se reuniram no Palácio das Convenções para expressarem a sua solidariedade com Cuba, tendo-se assistindo a intervenções muito emotivas e amplamente aplaudidas por cerca de um milhar de presentes.

A delegação portuguesa teve ainda oportunidade de estabelecer contactos com várias instituições cubanas e visitas a uma cooperativa agrícola, a um médico de família, a um policlínico, a um Comité de Defesa da Revolução e a uma obra social de Havana Velha, complementando um programa que tinha por objectivo dar a conhecer a verdadeira realidade e não aquilo que a habitual propaganda emanada por alguns comentaristas e comunicação social tentam fazer crer. Como em tempos disse Fidel, “Cuba não é o paraíso, mas também não é o inferno que muitos desejam que seja”.

O povo está alerta e vigilante sobre os perigos que podem advir contra as conquistas alcançadas pela Revolução, sabendo que são irreversíveis e que as novas gerações são o garante da sua continuidade.

José Marti e todos aqueles que se sacrificaram para que Cuba fosse soberana e independente merecem qualquer sacrifício.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)